quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Guitarra Portuguesa ...e saudades do avô António

O meu avô António era analfabeto, mas gostava de livros.... Gostava de os abrir e folhear lentamente, de ver as letras, de tocar e cheirar o papel... Enfim, não sabia ler, mas gostava de sentir os livros, apreciava o prazer sensorial que o livro proporciona. Compreendo perfeitamente...
Era extremamente cuidadoso com os livros (lembro-me que ficava furioso quando me via brincar com eles) e sentia verdadeiro orgulho na sua mini biblioteca, precisamente sete livros!
Mais tarde, quando aprendi a ler, pedia-me para ler tudo em voz alta e eu, aborrecida com a insistência, gritava que não e fazia queixa à minha mãe. (Se pudesse voltar atrás...)
Resumindo, a vida do meu avô foi pobre e triste, mas quando faleceu deixou-nos o seu tesouro: sete livros e três fotografias!
Depois de pedir, implorar e protestar muito, a minha mãe ofereceu-me os livros e, hoje, eles coabitam amigavelmente com algumas dezenas de semelhantes aqui em casa.
Como obras literárias, são pobres...quatro romances de cordel, uma biografia sobre uma santinha qualquer, um sobre arte que ensina a pintar naturezas mortas ;) e um sobre Lisboa e cultura portuguesa (Photographias de Lisboa).
Ontem, enquanto folheava o livro distraidamente, encontrei este excerto sobre a guitarra portuguesa e gostei da definição... Sorri e li em voz alta.


Está costumada a cantar tristezas desde a mais remota antiguidade e além disso fala tão baixinho que não chega a incomodar os grandes, os felizes, os opulentos. É quase uma criança que chora ou uma mulher que suspira. Impressiona e não atordoa. Faz-se ouvir, mas não se impõe.

Alberto Pimentel in Photographias de Lisboa


Verdes Anos - Carlos Paredes

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial